segunda-feira, 30 de junho de 2014

Beija-flor mostra sua força novamente em sinopse

  
  Sétima colocada do carnaval carioca, a Beija-flor quer mostrar que não ficou inteiramente satisfeita com o resultado e promete muita garra em 2015. A escola cantará o enredo Um Griô Conta a História: Um Olhar Sobre a África e o Despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos Sobre a Trilha de Nossa Felicidade" , que contará as várias áfricas presentes no Brasil e fará um enlace com a Guiné Equatorial. Confira a sinopse abaixo:
INTRODUÇÃO
Para conseguirmos entender o que fomos e o que somos, é necessário que se conheça a herança da África no Brasil e a África que ficou do outro A história da África - ou melhor, das várias Áfricas, faz parte da história do Brasil. É importante para nós, brasileiros, porque ajuda a explicar e entender a nossa história. Mas é importante também, por seu valor próprio, e porque nos faz melhor compreender o grande continente de onde proveio quase metade de nossos antepassados.
A importância e a magnitude da África é algo tão impressionante, que por mais que se fale de África com frequência, o tema é tão rico, que parece não se esgotar nunca; permanece despertando a curiosidade e o interesse de pessoas comuns e estudiosos.
No passado, as tribos regionais, com suas tradições e costumes, despertaram o interesse de distintos povos europeus, que em busca de especiarias, terminaram por fomentar o tráfico de escravos.
Hoje, ao revisitar o sofrido continente africano, nossa proposta principal é mostrar que é possível sim ter esperança de que um povo massacrado, cansado e desiludido, seja capaz de renascer, aos poucos, com sonhos vigorosos, planos precisos e metas concretas; projetando uma nova África, ou uma nova perspectiva para a África, calcada no progresso propiciado pelo "ouro negro" e nos ideais de unidade, paz e justiça, reafirmados tal qual um mantra.
Caminhemos sobre a trilha de nossa felicidade, porque neste carnaval, os caminhos da África nos conduzem à Guiné Equatorial.
Laíla, Fran Sérgio, Ubiratan Silva, Victor Santos, André Cezari, Bianca Behrends e Claudio Russo - Departamento de Carnaval e Comissão de Carnaval
SINOPSE
A conversa que ora inicia, poderia muito bem versar sobre religião e a fé em nossos ancestrais ou, quem sabe, sobre liberdade e este verde sem fim; alguns poderiam dizer que é o passado que se revela do outro lado do Mar Tenebroso, ou por que não a África animista por natureza em sua história de exploração, luta e dor. Esta conversa é tudo isso e um pouco mais, diálogo entre um pequeno filho da Guiné Equatorial e um Griô, um ancião, senhor do passado, mais um daqueles sábios que guardam, de pai para filho, a história viva do continente africano, e mais precisamente, de A criança, olhos fixos no velho homem, não deixa passar um detalhe
sequer, e o contador de histórias, em um tom tranquilo, porém com a voz firme, devaneia... Declama... Recita... o livro aberto da memória:
Foi num tempo primitivo, no albor de toda raça, sob um verde inimaginável, que nossa gente surgiu. Foi muito antes deles chegarem, os brancos, em seus grandes barcos, guiados pela mais voraz ambição, sedentos de ouro e de gente, nossa gente!
Antes era tudo verde, toda vida, tambores e tribos...
A natureza pulsava em cada elemento; as raízes das árvores entrelaçavam-se com a nossa raiz, e crescíamos , vivíamos e cultuávamos a liberdade, cada um com sua fé. Os ritos refletiam a força e a ligação do povo com a natureza, e a Ceiba, árvore sagrada da vida, testemunhou cada momento do florescer de nossa história.
Mas um dia, esta paz sucumbiu... Eles chegaram rasgando o Mar Tenebroso, e com as marés trouxeram a cobiça, sua força e seus costumes tão diferentes das nossas tradições; eles sangraram os corações de nossos ancestrais!
Falavam outra língua, buscavam riquezas... Escravizaram homens, mulheres, crianças... Em nome do Rei de Portugal.
A jóia da Coroa era a Casa da Guiné...
E do litoral, nossas mães observaram, onda após onda, seus filhos vendidos... Quantos reis comerciados, escravos por um trocado, objetos da opressão, no mercado de gente, mercadoria humana.
Mas a grandeza de nossa terra atrai outras bandeiras da maldade, e a engenharia da ambição ergue a sua companhia, leva o continente negro, através de nossa cultura, por um oceano de mágoas. Os filhos da África constroem a evolução da humanidade; o sangue negro foi a argamassa do edifício da escravidão.
Papéis assinados, destinos trocados, nossa terra por um tratado:
"Habla Espanhol"!
A raça negra, que transpiramos em cada poro, resiste, enfrenta a dor, não se entrega jamais, e a cada grilhão, nos tornamos mais fortes; a cada opressão, a cultura se manifesta.
Nada é mais degradante do que a ausência da liberdade!
Nada é mais libertador do que a força de um povo!
Menino, nós temos sangue dos Bengas! Somos herança do reino
Bubi! Corremos nas terras Fang!
Temos influência de Oyó!
A África é a Mãe da Humanidade!
Filho, o suor negro construiu a civilização moderna. Enquanto a empresa da escravidão possibilitou o acúmulo de riquezas, nosso mar de gente sangrou os mares. Ah! Quantos Zumbis, quantos Mandelas surgiram aqui no Golfo da Guiné? Nossa gente ensinou ao mundo o perfeito significado da palavra liberdade...
Senhor! (Fala a criança): E agora que eles foram embora?
O Grió aponta para o Mar e diz:
O que você vê?
O Oceano!
E depois?
O horizonte!
A África hoje enxerga o horizonte da reconstrução, respeitando a história daqueles que resistiram, observando a luta de quem um dia venceu a dor; símbolos de um continente desapropriado de grande parte de sua gente, mas acima de tudo, um continente guerreiro.
A nova face da África se lança rumo ao progresso; respeita a natureza, mas se engrandece com as riquezas que afloram deste chão.
Nova face em meio a grande floresta e a imensidão do mar em que se encontra a Guiné Equatorial; o país que emerge da Costa da Guiné, terra intimamente ligada à história do Brasil, vivendo o presente, como nação amiga e ansiando um futuro de unidade, paz e justiça.
Meu filho, orgulhe-se desta raça, de sua dignidade e sua contribuição para a humanidade! Lute, pois lutar sempre foi nossa verdade, para que assim, "caminhemos sobre a trilha de nossa felicidade".
JUSTIFICATIVA
África: a paisagem que mais parece uma miragem. Aquela imensidão verde, deslumbrante, intocada, hipnotizante. A força da selva e a importância de Ceiba, a Árvore da Vida.
As frondosas raízes das árvores se confundem, se misturam, se mesclam com as origens de nossos ancestrais, e com todo o legado por eles deixado.
Com a tez escura como o ébano, nativos e guerreiros de tribos primitivas, guardiões dos costumes e dos ritos tradicionais, preservam as informações, as práticas, as estórias e os costumes, que são registrados através da oralidade, na memória e nos corações dos homens. Totens, máscaras, carrancas, esculturas, peças de marfim e técnicas específicas, como a taiba, são alguns dos símbolos diversos que cruzaram o oceano a propagar uma cultura magnânima.
Diferentes povos demonstraram interesse em explorar, colonizar e extrair as riquezas da terra, destacando-se as investidas europeias, onde marcaram presença portugueses, holandeses, franceses, espanhóis e ingleses; sendo o Golfo da Guiné, o berço da herança cultural deixada pelos medievais reinos tribais dos Benga, dos Bubi e pelos clãs Fang.
Ao explorar o Golfo da Guiné, Portugal, na busca pelo caminho das Índias, coloca a Formosa Bioko nos mapas europeus. D. João II de Portugal, proclamado Senhor da Guiné, junto com os portugueses, inicia a colonização das ilhas de Bioko, Ano Bom e Corisco, convertendo-nas em postos destinados ao tráfico de escravos.
Na travessia do Mar Tenebroso, enjaulados em sombrios navios, e acorrentados à grilhões e às lembranças da terra natal, negros serviçais, humilhados, desacreditados e açoitados, terminam por se dispersar pelo mundo. São braços fortes, construtores, massacrados pelos opressores; pobres sofredores à mercê da sorte e da vontade de seus mercadores.
Um ode à liberdade anuncia o grito de independência: rompam-se as algemas! Abaixo a dominação! De braços dados, revela-se uma nação fraterna, ávida por união. Paralelamente à uma África antiga, primitiva, rústica, observa-se o despertar de uma nova face da África. Nascida na história recente, revela-se expoente a Guiné Equatorial.
Dotada de rica biodiversidade, com belezas naturais estonteantes e riquezas minerais abundantes, fauna e flora revelam as diferentes nuances da Guiné que saltam aos nossos olhos, refletidas em cores e estampas, tecidos e sabores, no ritmo, no gingado e nos penteados, que imprimem à essa gente uma negritude de traços tão marcantes.
Na iminência de completar meio século, a Guiné Equatorial é uma região de solo fértil. A terra, generosa, produz gêneros agrícolas diversos: cana-de-açúcar, café, cacau, banana, abacaxi, abóbora, milho, mandioca e algodão, são apenas alguns dos produtos que engrandecem a agricultura e brotam desse chão!
A extração de madeira, a existência de diamantes, e a descoberta do "ouro negro", com o conseguinte fomento do petróleo, ocorrem com demonstrações de respeito ao meio ambiente.
Empenhados em promover o encontro das bandeiras de duas nações fraternas, num majestoso festejo popular, onde a língua portuguesa é apenas mais um elemento de afinidade, objetivamos consagrar o enlace cultural entre o Brasil e a Guiné Equatorial, brindando os ideais de unidade, paz e justiça.
Abordando as distintas influências, sem discriminação, cantemos liberdade! E "Caminhemos sobre a trilha de nossa imensa felicidade".
SETORIZAÇÃO INICIAL - CARNAVAL 2015
SETOR 01 - ABERTURA
A Árvore da Vida e a Floresta Equatorial Africana
SETOR 02
África - O Berço Negro do Mundo - Tradições e Realeza
SETOR 03
Rota para as Índias - O Caminho das Especiarias - A Descoberta de um Novo Território
SETOR 04
As Investidas Européias em Terras da Guiné
SETOR 05
A Cultura de um Povo Atravessa o Mar Tenebroso - Navio Negreiro
SETOR 06
Guiné Equatorial - A Ascensão de uma Nação
SETOR 07
O Enlace Cultural Entre o Brasil e a Guiné Equatorial

domingo, 29 de junho de 2014

Sinopse do Salgueiro promete deixar água na boca em 2015.

"Do fundo do quintal, saberes e sabores na Sapucaí"
Os primeiros habitantes
Afastada do litoral, a região do Serro do Frio, em Minas Gerais, antes da chegada dos colonizadores, era habitada pelos índios botocudos. Tratava-se de uma tribo conhecida pelas enormes argolas enfiadas nos lábios e nos lóbulos das orelhas. Da presença indígena, a cozinha mineira herdou muitos elementos, como o uso de raízes e brotos, os frutos encontrados no mato, a caça, a pesca, os utensílios, os modos de preparo e tempero dos alimentos, enfim, o aproveitamento dos recursos que a terra dava.
Conta certa crônica escrita por um viajante europeu que os índios desta região tinham como hábito degustar um verme que vivia no broto da taquara, uma espécie de bambu. Os nativos faziam com ele uma excelente iguaria parecida com um creme que ressaltava o sabor dos alimentos. Usado de outra forma, o "bicho-da-taquara", como era também conhecido, uma vez seco e triturado em pó, servia como poderoso sonífero. Isto proporcionava longas noites de sono repletas de sonhos maravilhosos por terras desconhecidas e de exuberantes paisagens, paraíso de cores e sensações inesperadas. Aquele que o consumia, era transportado para um mundo imaginário fascinante!
A corrida do ouro
Os bandeirantes avançaram pelo território brasileiro em busca de riquezas. Levavam na bagagem, nos lombos dos burros, o modo de cozinhar dos tropeiros que produziam uma comida seca e fácil de ser transportada. Comida não perecível, de quem fica pouco tempo em um só lugar. As bandeiras tinham que se virar com o pouco que tinham à mão, daí recorrerem à caça e à pesca, aos talos e folhas e outras tantas ervas que encontravam pelos caminhos.
Por volta de 1693, foi descoberto ouro em Minas Gerais. Logo teve início uma corrida
desenfreada atrás de seus veios. Esmeraldas e diamantes atraíram gente de toda parte do Brasil e da Europa. Portugal teve que abrir o olho, mandou fiscais, militares e estabeleceu uma alfândega para evitar o contrabando dos metais e pedras preciosas.
Nesse período a população cresceu, os pequenos povoados viraram vilas com casas de alvenaria e sobrados de dois andares que ocuparam o lugar das palhoças de pau-a-pique. Modos e modas da metrópole se espelhavam no comportamento das sinhás e sinhazinhas, que trouxeram tecidos e rendas, louças e talheres, novos ingredientes para aprimorar ainda mais a cozinha mineira.
Alucinados pela febre do ouro muitos abandonaram a lavoura e se dedicaram à exploração das minas. Logo a escassez de alimentos se fez sentir. Havia ouro, mas faltava comida. Com o preço dos alimentos subindo sem parar, muita gente passou fome. E como a necessidade é mãe da invenção, o mineiro daqueles tempos foi buscar soluções até então impensadas. Exigia-se o aproveitamento de tudo. O que antes era rejeitado, agora era incorporado num novo prato, num novo modo de preparo. Daí vem o jeito mineiro, sempre cauteloso e prevenido. Ou seja, a abundante cozinha típica mineira surgiu da fome.
Os escravos das minas
A notícia da descoberta do ouro trouxe para Minas milhares de escravos vindos de outras regiões do Brasil, principalmente daquelas onde a cana-de-açúcar prosperava. Outros vieram diretamente do continente africano, o que causou um espantoso aumento da população negra em Minas. Esta migração forçada e sofrida deixou sua marca indelével na cultura mineira, seja na religiosidade, na música e na dança e, sobretudo, na cozinha, formando junto com o indígena e o branco colonizador a "Saborosíssima Trindade" da tão variada culinária de Minas.
"Depois do idioma, a comida é o mais importante elo entre o homem e a cultura". - Raul Lody
A cozinha
"O cart?o de visitas de um local é a sua cozinha. Ela ensina, pelo sabor, seus saberes".
Um prato típico é aquele que preserva e envolve muitos saberes no seu conteúdo, saberes que não se perderam no tempo. Cada utensílio de cozinha, como pilões, tachos, gamelas, colheres de pau, panelas de ferro ou de pedra sabão. Cada tempero como o imprescindível alho e sal, o urucum, a pimenta, cada folha vinda do mato ou da horta, como o "ora-pro-nobis" e a couve, cada ingrediente como a gordura de porco, a farinha ou a cachaça, tudo guarda em si um conhecimento ancestral, que atravessa as gerações e faz sentir no presente as lembranças e os afetos que nos remetem a outros tempos e lugares vividos.
As receitas culinárias de Minas são inumeráveis. Misturas de magia afro-indígena, da sofisticação luso-europeias, mas o princípio fundamental em todas elas, dito com propriedade, é: "O primeiro ingrediente que vai na panela é o amor".
A comida e a fé, sustentáculos do homem da terra...
Era preciso ter disposição e força para encarar o trabalho duro. E haja angu e rapadura para vencer a lida! Mas mesmo quando a comida era pouca, havia a fé, havia a crença, que superava as dificuldades e enchia de esperança o futuro.
Em Minas, a devoção está para o homem como o sol está para a vida. Sob a luz de Nossa Senhora do Rosário o "ora-pro-nobis" toma gosto e ganha tom! Todos em uma só voz entoam as angústias e as glórias de um povo que sobreviveu à escravidão. Todos honram à padroeira da cidade do Serro, nas figuras de índios, reis, juízes e marujos. Aqui as três raças se consagram: índios, brancos e negros louvam em uníssono àquela que guarda e protege a todos sem fazer distinção. Homens e mulheres unem-se num ato de amor e gratidão por tudo o que a terra e a vida lhes deram sob a bênção de Nossa Senhora, cantando, seguindo em procissão, e, é claro, compartilhando os quitutes da boa mesa, da divina comida mineira, temperada com uma boa pitada de generosidade.
E eis o grande milagre:
Colher de pau, pilão, tacho de cobre.
Fogo de chão, gamela, fogão de lenha.
É com amor que o mineiro põe a mesa,
É atiçar o fogo e manter a chama acesa!
Renato Lage e Márcia Lage
* Este enredo é baseado no livro "História da Arte da Cozinha Mineira", de Dona Lucinha (Maria Lúcia Clementino Nunes). Folhear essa obra é fazer um aprendizado sobre os costumes de Minas Gerais, suas tradições, suas deliciosas receitas. É seguir os caminhos que levaram à descoberta do ouro e se aprofundar na história do Brasil. Nosso enredo para o carnaval de 2015 é uma viagem através dos sabores que Minas Gerais oferece e resguarda nos saberes que cada prato típico preserva através do tempo.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Mancha Verde escolhe samba para cantar em 2015

Parceria vencedora na Mancha Verde. Foto: SRZD

Na tarde desta quinta feira (19/06) a Mancha Verde foi a primeira escola de samba do carnaval de São Paulo a escolher o samba para o carnaval de 2015. A escolha foi na sede social da agremiação que recebeu bom público para escolher entre as três obras finalistas. Para abrir o carnaval do grupo especial, a agremiação vai cantar o samba de Silas Augusto, Marcelo Casa Nossa, Aquiles da Vila, Chanel, Bruno Mancha e JC Castilho. Confira a letra e o audio abaixo e boa sorte à escola!

NEM SEI POR ONDE COMEÇAR
DE TANTO AMAR, SEU MANTO SAGRADO
EU VIVO SUAS EMOÇÕES
MIL DECLARAÇÕES REFLETEM MEUS ATOS
EM SOLO BRASILEIRO
DOS POVOS O MAIS GUERREIRO
DA MITOLOGIA A INSPIRAÇÃO
HERANÇA MARCADA NA EVOLUÇÃO
NO "PARQUE" UM SONHO A CONQUISTAR
EM CADA CORAÇÃO O NOSSO LAR
OLÊ PALESTRA!
COM RAÇA VENCEU A PERSEGUIÇÃO
OLÊ PALMEIRAS!
DE FATO O ETERNO CAMPEÃO
HERÓICO!
NO ARDOR DA PARTIDA, OSTENTOU SUA FIBRA
COM AS CORES DO MEU BRASIL
BRILHAM NA ACADEMIA
ESTRELAS NUM LINDO "JARDIM"
"DIVINO" A LUZ QUE ME GUIA, UM AMOR SEM FIM
SAGRADA, NAS MÃOS DE UM SANTO MINHA DEVOÇÃO
"LIBERTO" O GRITO EU SOU CAMPEÃO
EM VERDE E BRANCO QUERO ETERNIZAR
A NOVA CASA, MEU ORGULHO, MEU LUGAR!
DE BRAÇOS ABERTOS VOU ME DECLARAR
EU AMO VOCÊ... PALMEIRAS
100 ANOS DE LUTAS E GLÓRIAS
CANTA MANCHA VERDE GUERREIRA!

Fernando Pamplona é o enredo da São Clemente para 2015


Décima primeira colocada no grupo Especial carioca, a São Clemente ira homenagear o carnavalesco Fernando Pamplona em seu próximo carnaval. A escola trouxe a campeoníssima Rosa Magalhaes para assinar o desfile e tentar uma classificação melhor. Confira a sinopse abaixo:
"A incrível história do homem que só tinha medo da Matinta Pereira, da Tocandira e da Onça Pé de Boi"
Em Rio Branco era assim, um florestão envolvendo a cidade. Ninguém adentrava na mata - "Tá doido seu?" Era habitada pela bruxa Matinta Perera, que calava o uirapuru mas que sumia com a chuvarada, por um bicho brabo, o gogó de sola, de dentada perigosa feito cobra, pela formiga tocandira, pela onça do pé de boi, que todo mundo jura que existia, com pé de boi e tudo. Pois foi lá nesse lugar tão longe que nosso personagem passou a infância. Foi crescendo até que um dia chegou a hora de voltar para o Rio de Janeiro, sua terra natal e onde passaria o resto de sua vida.
No Lido é que começou a brincar carnaval, ouvindo "Mamãe eu quero" e "Touradas em Madri". O bloco de sujo de que fazia parte ensaiava no cemitério. A molecada se encontrava perto da quadra IV, que ainda estava em construção, e os defuntos ali enterrados não reclamavam do barulho. "A avenida Rio Branco era um deslumbramento só" - mão dupla, tudo decorado, cheia de grupos fantasiados. Entre os carros, desfilavam os cordões, grupos e blocos com muitos pierrôs, arlequins, tiroleses, holandeses e muitas colombinas também.
Passa o tempo, passa a guerra, passa a ditadura de Vargas, o tempo vai correndo e nosso herói vai se tornando mais adulto e mais valente. Essa avenida Rio Branco, dos desfiles carnavalescos, era a mesma que abrigava o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional, o Museu e a Escola de Belas Artes. E lá foi ele, atraído pelas artes, para a tal escola, e também para o teatro, onde trabalhou por muito tempo. Foi desse local, numa janela do andar superior, seu camarote exclusivo, que viu pela primeira vez um desfile de escola de samba, com Natal reclamando e a Portela evoluindo, alí , naquela mesma avenida.
Um dia, foi convidado para fazer parte do júri das escolas de samba. Aceitou. E foi também na Avenida Rio Branco que, encarapitado num palanque de madeira, viu um desfile bastante sui-generis. "A primeira escola quebrou o eixo do carro... Que entre a segunda.... Mas a segunda só entraria se a primeira entrasse.... Então que entre a terceira... E nada da terceira, e nada da quarta também - Às onze e meia da noite, chega alguém avisando que a quinta iria desfilar - até que enfim..." A quinta era o Salgueiro, apresentando enredo sobre Debret - o que cativou nosso jurado: em vez de "Panteão de Glória", "Batalhas de Tuiuti", etc., cantava um artista - Debret.
Foi desse dia em diante que nosso personagem tornou-se carnavalesco e salgueirense - as cores vermelho e branco ainda por cima o remetiam ao time de futebol lá do Rio Branco, quando ainda era menino. Não esperava receber o convite para desenvolver o enredo para o Salgueiro,no ano seguinte. Escolheu a resistência negra durante o período da escravidão,
Nzambi dos Palmares, ou Zumbi dos Palmares, assunto que não era focalizado pelas escolas. Virou filme, e Zumbi hoje é símbolo de resistência. Descobriu para o povo não só o Nzambi como Xica da Silva (foi um estouro!!), Aleijadinho, e acabou desencavando um enredo sobre uma visita de um rei negro aMauricio de Nassau - cuja música foi cantada não só no carnaval como em estádios de futebol, casamentos, e até hoje faz sucesso - Olêlê, Olálá, pega no ganzê, pega no ganzá
 Apesar das vitórias, havia uma certa crítica negativa a ele, dizendo que não se deveria interferir numa manifestação popular. Tinham esquecido que, desde a década de 40, as escolas contratavam artistas eruditos e profissionais para realizarem seus enredos.
No ano do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro, o tema escolhido foi "História do Carnaval Carioca", que retratava o carnaval carioca e o baile dos pierrôs, produzido por Eneida todo ano. Jogaram muito confete e serpentina durante o desfile, e os garis estavam esperando o Salgueiro sair da avenida para limpar tudo antes do desfile da Portela. Provocativos, os salgueirenses disseram que aquela era a comissão de frente da Portela. Os portelenses obrigaram os garis a irem limpando a pista no final do desfile do Salgueiro. Foi a apoteose - "Puxa, não esqueceram nada, tem até os garis limpando o final da festa!" Esses garis foram aproveitados mais tarde pelo Joãozinho Trinta no seu famoso desfile dos Ratos e Urubus. Na época, João era aderecista e bailarino. Acabou abandonando a dança e tornou-se carnavalesco, mas esta já é uma outra história...
O nosso herói fez outros carnavais vitoriosos. Depois, passou a bola adiante e foi se dedicar a vários afazeres nas TVs para as quais trabalhava. Um dia, cansado da vida, foi embora, acho que um pouco contrariado, pois viver foi sempre uma aventura que encarou sem medo. Deve ter sido recebido por uma extensa corte - Nzambi, Aleijadinho, Xica da Silva e outros tantos negros e mulatos que fazem parte da cultura deste país mulato. Agitando bandeirinhas, eles gritaram em coro: "Pamplona, Pamplona, Pamplona...."
Rosa Magalhães

Imperatriz Leopoldinense divulga enredo afro para 2015

Foto: Imperatriz Leopoldinense lança logo do enredo rumo carnaval 2015
   A Imperatriz Leopoldinense, 5ª colocada do carnaval de 2014, já deu sua largada na corrida rumo ao carnaval de 2015. A escola lançou a logo e a sinopse do enredo "Axé Nkenda - um ritual de liberdade - e que a voz da igualdade seja sempre a nossa voz" assinado pelo carnavalesco Cahê Rodrigues. Em seu terceiro ano na escola, Cahê levará uma temática aro para a escola de Ramos, algo que não acontece desde 1983. Confira abaixo a sinopse:

Enredo: AXÉ NKENDA – Um  ritual de liberdade – E que voz da liberdade seja sempre a nossa voz
"Ninguém nasce odiando uma pessoa por sua cor de pele ou religião. Pessoas são ensinadas a odiar. E se elas aprendem a odiar, elas podem ser ensinadas a amar." - Nelson Mandela
Axé
Ouçam a voz do vento. Prestem atenção no que ela tem a nos contar.
Lembra do tempo em que as estrelas coroavam o nosso pensamento e, com ele, começavam a brilhar.
Nossos ancestrais conviviam em harmonia com a natureza e a sabedoria dos animais. Construíram uma gigantesca família, se espalharam pelo mundo e, por onde passavam, abriam novos caminhos para semear o amor e a paz.
Naquele tempo, não havia longe, nem perto; nem errado, nem certo; e reinava uma exuberante floresta onde, hoje, padece o maior de todos os desertos.
Caminhando pela savana, reunidos em torno da fogueira, celebrávamos a chegada e a partida,  como se o direito de ir e vir fosse uma certeza prometida.
Baobá, árvore querida... Aprendemos a cantar, o segredo da rima, rimando a pureza das palavras com a beleza da melodia: alegria com nobreza, mistérios com fantasia.
Baobá, árvore querida... Conduz nosso canto até onde moram os deuses do infinito. E que eles cubram com o manto da noite o ventre de Mãe África, onde dormem as matrizes da vida.
África, Triângulo Sagrado, banhado por um oceano de cada lado.
Ao Norte, o próspero Mediterrâneo; a Leste, o reluzente Índico; a oeste, o tenebroso Atlântico.
Ao Norte, entre o mar e o Saara,  brotaram as suas primeiras civilizações, verdadeiras joias-raras: o esplendor do Egito, o empreendedor Cartago e o Marrocos de Alah.
A Leste, velas tremulavam, salpicando o mar. Traziam sedas da China, tapetes da Pérsia e temperos da Índia. Do Reino do Sudão levavam o ouro e outros metais preciosos.
Entre os paralelos do Equador, existe uma majestosa floresta, onde o homem não se cansa de tirar, nem os deuses se cansam de repor.
Além de árvores, plantas e espécies fantásticas, existem rios e cachoeiras que os nossos olhos são poucos para admirar. Não existe na Terra, tamanha diversidade, incrível  quantidade  de vegetais e animais - embora, não faça muito tempo, houvesse muito mais.
São Zulus, Massais, Bantos, Mossis, Bokongos e Hauçás clamando por liberdade e paz!
Os mistérios da Natureza vão além da compreensão. Explode o raio, grita o trovão, a cheia inunda o vale, a terra vomita fogo pela boca do vulcão. A cachoeira chora, a lua cheia anuncia que algo acontecerá antes do raiar do dia. Ao som de tambores, lendas, mistérios, curas e magia constroem mitos e aventuras, cultos e culturas. Essa é a nossa liturgia.
Vivemos numa terra de contrastes permanentes.  O mais velho dos continentes possui a população mais jovem do planeta - com sonhos ainda latentes.
Também pudera... Nenhum outro continente sofreu tantas transformações, tantas violações, em tão pouco tempo!
Nossos guerreiros não conseguiram impedir a marcha do invasor. Suas preces foram sufocadas pelos canhões. Perdemos nossos bens, muitas vidas, dialetos e nações. O pranto foi pouco para tanta dor...
Fomos submetidos aos mais diferentes tipos de colonialismo. Aprendemos as mais contundentes formas de respeitar o "senhor". A pior delas foi o racismo - linha reta entre quem manda e é mandado.
Nos impuseram uma nova etnia, religiões, obrigações, devoções e economia. Fomos escravizados à tecnologia,  em nome de um mundo "civilizado".
Pelas janelas do Atlântico, nossos olhos ainda choram amargas lembranças, vendo nossos irmãos partirem para terras desconhecidas. Não houve despedida, nenhuma notícia, nenhuma esperança.
Uma delas fica do outro lado do oceano e se chama Brasil. É uma terra muito parecida com a nossa: tem florestas, praias, muitos rios, clima quente, clima frio, gente que ginga, brinca e que também faz festa na roça.
Irmãos do Congo, Angola, Daomé, Gaô e Jané foram levados para lá. Carregaram na lembrança nossos deuses, nossas danças, nossa música, bebidas e comilanças, misturando nosso sangue ao brasileiro. É por isso que eles são tão festeiros.
Não fazem uma roda sem que haja um tambor, berimbau, reco-reco e agogô. Cantam em iorubá, rimam em nagô e começam a sambar. O que era uma roda vira festa, colorindo o país de Norte a Sul. Vem maracatu... boi-bumbá, congada, capoeira, reisado, umbigada, é jongo a noite inteira.
Como num rap, ou num partido-alto, criam vários sentidos com a magia das palavras...
Acarajé, quibebe, munguzá,
Caruru, abrazô, vatapá...
"Gererê, sarará, cururu
Olerê!
Balá-blá-blá, bafafá, sururu.
Olará!"
E vejam só que interessante... Depois das lágrimas de uma chegada angustiante, nasceram festas e folias que alegram o povo até os nossos dias.
Nossos irmãos rezavam para os deuses que não eram seus. Cantavam músicas que não eram suas. E fechavam as procissões que se arrastavam pelas ruas.
Foi assim que aprenderam a desfilar. Nasceram irmandades de bambas, organizadas como verdadeiras Escolas de Samba! Que, aliás, são Escolas de Cultura e Arte Africanas!
Nelas se aprende as coisas mais elementares da vida: Por exemplo... uma banana, subvertida como símbolo de racismo,  na verdade é o africanismo mais popular do Brasil... E se não devemos dar asas para o mal, podemos transformá-lo numa brincadeira de carnaval. Que tal?
Cantemos  a LIBERDADE! E para que ela abrisse as asas sobre nós, tivemos que ser fortes de verdade. Aprendemos com Zumbi, com os  Malês, Manoel Congo, João Cândido e outros irmãos que já não estão aqui. Mas deixaram um caminho a seguir.
Aprendi que a vida é um permanente ritual de liberdade. Lutando por justiça, movimentos se espalharam pelo mundo inteiro. Estão documentados nos livros, no cinema, no teatro, na música, nas artes plásticas, nos grafites, por toda parte. Foi por ela que dediquei toda a minha existência. E faria tudo novamente.
Para que esta mensagem fosse tão transparente como as nossas águas, buscamos um caminho sem mágoas, procurando sempre a simplicidade. É como a África, mãe de tantas diversidades, lutando sempre por justiça. Foi a forma que encontramos para mostrar a verdade.
Precisamos semear nos livros, nas escolas, nas mentes e nos corações.
Precisamos reconstruir o continente africano e a mentalidade de muitos. Precisamos escrever uma nova História de Vida, pontuada de ações humanas, fraternas e solidárias!
Precisamos despertar em  nossos irmãos, o mais difícil de todos os desejos: o de aprender a amar. Para que, então, a voz da igualdade seja sempre a nossa voz
Este será o nosso maior desafio.
Axé, Nkenda!
Nelson Mandela
Céu - Departamento da África do Sul, Mvezo
GLOSSÁRIO
NKENDA - Amor, segundo o Kimbundu, língua africana falada no Noroeste de Angola.
BAOBÁ (Andansonia digitata) - Também chamado de embondeiro. Árvore que pode atingir 25 m de altura e 7 m de diâmetro. É a árvore nacional de Madagascar, emblema do Senegal e considerada sagrada em todo o continente africano.
ZULUS, MASSAIS, BANTOS, MOSSIS, BOKONGOS e HAUÇÁS - Algumas das mais tradicionais etnias africanas.
Acarajé, quibebe, munguzá, caruru, abrazô, vatapá - Comidas e iguarias da culinária africana.
"Gererê, sarará, cururu/ Olerê!/ Balá-blá-blá, bafafá, sururu/ Olará!" - trecho da letra de "Querelas do Brasil", música de Maurício Tapajós e Aldir Blanc, gravada por Elis Regina.
Carnavalesco: Cahê Rodrigues
Pesquisa e Texto: Marta Queiroz e Cláudio Vieira

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Afinal, enredo batido existe?


   Todos os anos nessa mesma época do ano acontece uma intensa movimentação no mundo do samba. As escolas já passaram pela virada de ano e estão à procura de um enredo para desenvolver rumo ao próximo carnaval, mesmo passados poucos meses do mais recente. As escolhas das agremiações mexem com o imaginário dos foliões, e sempre surge alguém que fala que é um "enredo batido". Mas afinal, existe isso mesmo?
   Os enredos são considerados batidos quando muitas escolas recorreram às suas temáticas nos últimos anos. Temos muitos exemplos que cabem nessa descrição, talvez o mais simples seja a Amazônia que sempre arruma um jeitinho desfilar no meio da maior festa do mundo.
Desfile do Acadêmicos do Grande Rio sobre a Amazônia, 2006
   E nessa linha temos muitos outros enredos como o povo do nordeste, a África, os orixás, o Rio de Janeiro e entre outros. Fora os casos de duas escolas apresentarem uma mesma temática em um mesmo ando (sendo ambas do Rio ou de São Paulo). Algumas agremiações são até taxadas pela quantidade de enredos que "se repete" na avenida. Porém será que realmente é batido? Será que o público está "cansado de ver isso?"
Desfile do Acadêmicos do Tucuruvi sobre o povo nordestino, 2011
   A resposta é NÃO. Está certo falar que há sim um certo desconforto, pois os torcedores temem que as escolas sejam má compreendidas pelos jurados. Mas um bom carnavalesco sempre acha um meio diferente de abordar o tão esperado enredo, muitas ideias podem surgir para tentar amenizar esse clima de "já vi este filme" e dá certo. A primeira vista pode ser tudo parecido, mas sempre haverá um fio condutor diferente por trás de cada desfile, o que torna a festa interessante. Então, não se preocupe se a sua escola do coração escolhe algo comum à primeira vista. Você pode se surpreender com o resultado na avenida!
Desfile da Portela abordando o Rio de Janeiro com foco nas mudanças da zona portuária, 2014

terça-feira, 17 de junho de 2014

Paulo Barros lança sinopse da Mocidade sobre fim do mundo


Considerada a escola que mais investe na fase pré-carnavalesca, a Mocidade Independente de Padre Miguel conheceu nessa segunda feira (16/06) a sinopse do enredo que cantará em 2015. "Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria se só te restasse um dia" será desenvolvido pelo carnavalesco Paulo Barros, estreante na agremiação. Confira a sinopse abaixo:

Enredo: SE O MUNDO FOSSE ACABAR, ME DIZ O QUE VOCÊ FARIA SE SÓ TE RESTASSE UM DIA?
A Mocidade Independente de Padre Miguel quer provocar a imaginação do público e pergunta: Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria se só te restasse um dia? Em uma livre adaptação da música O último dia, de Paulinho Moska e Billy Brandão, o enredo de 2015 retoma um tema inquietante que sempre impressionou a humanidade com suas previsões e profecias: afinal, o fim do mundo parece estar sempre próximo... Mas o que você faria diante da possibilidade de um ponto final na aventura do homem na Terra? Se o mundo fosse realmente acabar e restasse apenas um dia para viver, apenas um último dia... O que você faria?
“Meu amor
O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria?”
Se os prédios e avenidas que você conhecia ruíssem sob os seus pés
“Me diz o que você faria?”
Se um dia, você descobrisse que não mentiam as profecias
Sábios sabiam, santos sentiam, videntes já viam
Papas pregavam, rezavam, pediam
E os bruxos, o futuro já liam
Premonições, pesadelos, o fim do mundo os sonhos previam
Não eram loucos, eram guias
“Me diz o que você faria?”
“Abria a porta do hospício”, soltava a sua alegria?
Agora a loucura é real, juízo final, é o último dia
“Meu amor
O que você faria se só te restasse um dia?”
“Corria para um shopping center
Ou para uma academia?”
Enquanto o mundo se desfaz, me diz o que você faria
Aproveitava esse tempo, no mesmo ritmo e compasso
Você manteria a rotina, tudo igual, passo a passo?
Se o tempo não voltasse atrás, me diz, você brincaria?
Ficava de bem com a vida, com os amigos se divertia
Se não houvesse amanhã, cantava, dançava, sorria
Passava as horas, minutos, segundos, até terminar esse dia?
“Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?”
Botava pra fora a tristeza, soltava o que reprimia
Tirava a roupa e saía, fugia para o meio da rua
“Andava pelado na chuva”, fazia amor sem censura, o que te prendia?
Lançava seu corpo no ar, você aprendia a voar, meu amor
Vivia. E o que há pra viver, nesse último dia?
Fazia o mundo girar, matava a sede, morria
Se o mundo fosse acabar, me diz, ganhava a rua e sumia?
E o prazer de viver até onde te levaria?
“Dinamitava o meu carro, parava o tráfego e ria”
“O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz o que você faria?”
Se o chão tremesse aos seus pés, e você não tivesse saída
E se as águas rolassem, arrastando a multidão
Pegava a fantasia pra brincar na Avenida
O que você faria, meu amor?
Batia um bumbo com força, esquentava o tamborim
Rodava a baiana, levava o estandarte, anunciava a folia
Vinha na Mocidade sambando sem parar
Acreditava que, assim, você sobreviveria?
No último dia, afinal, se fosse carnaval, você se acabaria?

domingo, 15 de junho de 2014

Nenê de vila Matilde aposta em Moçambique para 2015

Depois de uma amarga 12ª colocação e de quase ser rebaixada novamente, a Nenê de Vila Matilde busca se reerguer e voltar a ficar entre as primeiras colocadas. Para isso, escolheu como enredo para 2015 Moçambique ("Moçambique, a lendária terra do baobá sagrado"). O carnaval será assinado pelo carnavalesco Pedro Alexandre (magoo). Confira a logo e a sinopse abaixo:

Sinto uma forte vibração vinda de além-mar...
Tambores anunciam que uma convidada ilustre acaba de chegar
Seja benvinda águia azul e branco de tantas histórias, 
junte-se às crianças do meu povo para ouvir minhas memórias.
Nasci do ventre da mãe África e conheço esse solo por inteiro,
para contar o que testemunhei, recorro à sabedoria de um velho feiticeiro
que será meu porta-voz, pois conversa com os elementos da floresta,
negra herança de um povo, misticismo que se manifesta.
Começo minha história aqui, este é meu ponto de partida,
Me chamo Baobá, sou a árvore sagrada da vida!

Curvem-se a mim com respeito e devoção, 
pois meus galhos são mais antigos do que a sua própria nação,
imponente na paisagem, água em meu corpo tenho o dom de armazenar,
sou raiz forte, resisti a todo tipo de adversidade que se possa imaginar.
Vi a chegada de negros de língua Bantu vindos de outras partes do continente
fazendo morada em nossas terras, trazendo os costumes de sua gente,
um povo que produzia e manuseava objetos de ferro com rara habilidade,
suas tribos, linhagens e etnias viveram um longo período de prosperidade,
Tinham tudo à vontade, ouro, madeira, marfim e várias outras riquezas naturais,
Exploraram e negociaram sem limites em nome das tais atividades comerciais.
Sob a proteção de minha sombra, Monomotapas dominavam o interior,
enquanto no litoral, os Suailis trocavam mercadorias com seja lá quem for,
tolos, mal sabiam que isso despertou a cobiça do futuro invasor.
Conheço como ninguém todas as lendas desse lugar, 
muitas são reais e outras partiram do imaginário popular,
Dizem que a muito tempo, da terra das mil e uma noites um sultão aqui chegou,
Como Mussa Ben Mbiqui se apresentou e por aqui mesmo ficou.
Hábil comerciante, negociava com mercadores vindos de todos os lados
e devido a isso, de "terra de Moçambique" passamos a ser chamados.

Posso sentir novamente um vento frio em meu tronco bater
pois puxo agora da memória relatos antigos difíceis de esquecer.
Lembro-me bem do dia em que tudo começou...
Foi quando um povo fugido das adversidades do deserto aqui chegou
trazendo em sua bagagem uma nova cultura, costumes e religião,
Nos deram tapetes, miçangas, tecidos, perfumes, venderam ilusão,
em troca levaram ouro, marfim e nossos filhos para escravidão.
os árabes transformaram nosso litoral num grande mercado a céu aberto
pois a febre do ouro deixou nossos defensores com os olhos encobertos,
brigavam entre si na floresta em nome da ambição,
abrindo as portas para o inimigo, pois enfraqueceram nossa nação.
Nesse período eu já era respeitado, ninguém ousava mexer com o Baobá sagrado,
sempre reinei soberano em comunhão com espíritos dos ancestrais
água, terra, fogo e ar, sempre fui parceiro dos elementos naturais.
Ventos vindos do litoral trazem um relato de pura magia,
pude sentir a esquadra do navegador Colombo quem diria,
dar meia volta, amedrontados com o que acabaram de enxergar,
eram as sereias negras enviadas pelos deuses, protetoras do nosso mar.
Muitas vezes, fui refúgio, dei sombra e abrigo
para quem queria se proteger do inimigo.
testemunhei a chegada dos dragões vermelhos da maldade
empunhando espadas reluzentes , espalhando medo e crueldade.
Com muito orgulho posso afirmar, que muitas vidas ajudei a salvar
Afinal, para se esconder dos espanhóis lugar melhor não há
do que a parte de trás do tronco desse velho Baobá!
Meus galhos estremecem...
pois lembro como hoje do dia em que aportaram em nossas terras,
vindos em caravelas negras envoltas da fumaça das trevas ,
Os mais cruéis invasores que enfrentamos, que entraram sem pedir licença
saqueando, escravizando, impondo uma nova língua e uma nova crença.
testemunhei a chegada dos demônios verdes enviados pela coroa de Portugal
com a aparência de bodes infernais, eram a mais pura representação do mal.
Porém, os mesmos espíritos que guiavam os antigos guerreiros
incorporaram no nosso povo e lutamos por séculos inteiros.
Não aceitamos o domínio com passividade, tivemos paciência
e graças a essa gente conseguimos a sonhada independência.

Por isso, convido a todos que celebrem a tão sonhada liberdade,
Que o som das timbilas e tambores ecoem e espalhem nossa felicidade.
Quero ver a tribo Makonde em festa, onde a alegria vive e se manifesta,
é lindo ver as máscaras mapico num ritual de iniciação 
e mulheres com coloridas capulanas, mantendo viva a tradição.
É batik, é batuque, é alegria em comunhão com a natureza,
se me perguntarem onde as águas são mais azuis, afirmo com certeza
que em Bazaruto as riquezas marinhas encantam pela beleza.
Vejo com alegria a savana renascer, depois de um período de tribulação,
reino soberano em Gorongosa, com os animais que habitam esse chão.
Somos uma nação onde a natureza é preservada e a fauna não para de crescer,
é a vida selvagem que ressurge em Moçambique, é assim deve ser!

Para os males da alma e do corpo, nossos curandeiros tem a cura
Ensinamentos ancestrais com medicina, essa é a grande mistura.
Vejo novos estrangeiros chegando por todos os lados
provavelmente encantados, com tanta alegria e diversidade.
Minha capital de simples tribo se tornou uma grande cidade.
um povo de pele amarela apostou na nossa capacidade
de mexer com a terra, assim como aprendemos dos antigos,
abrimos fronteiras fizemos amigos.
Nos tornamos "o leão tecnológico", o futuro do continente,
mais se perguntarem qual o segredo do sucesso crescente,
afirmo com a propriedade de quem viveu o passado e o presente...
o sorriso e a alegria dessa gente!

Termino aqui a minha trajetória,
cumprindo e contando minha história.
Sou o Baobá sagrado, árvore soberana da floresta,
por isso, não quero tristeza, quero festa,
entrego meu fruto para vocês jovens, como símbolo de conhecimento.
Das minhas cinzas que não são de morte e sim de renascimento,
retiro as sementes da prosperidade e entrego a águia guerreira,
peço que cumpra a sua missão e as espalhe pela terra inteira.
Voe pela imensidão, seja a minha mensageira!
Só assim então, teremos garantias de tempos felizes,
As sementes virarão árvores sólidas que espalharão suas raízes.
Saibam que nossa conversa, no tempo se eternizará
Para que todos lembrem sempre, dos ensinamentos deste velho Baobá!

Magoo
Carnavalesco da Nenê de Vila Matilde