domingo, 15 de junho de 2014

Nenê de vila Matilde aposta em Moçambique para 2015

Depois de uma amarga 12ª colocação e de quase ser rebaixada novamente, a Nenê de Vila Matilde busca se reerguer e voltar a ficar entre as primeiras colocadas. Para isso, escolheu como enredo para 2015 Moçambique ("Moçambique, a lendária terra do baobá sagrado"). O carnaval será assinado pelo carnavalesco Pedro Alexandre (magoo). Confira a logo e a sinopse abaixo:

Sinto uma forte vibração vinda de além-mar...
Tambores anunciam que uma convidada ilustre acaba de chegar
Seja benvinda águia azul e branco de tantas histórias, 
junte-se às crianças do meu povo para ouvir minhas memórias.
Nasci do ventre da mãe África e conheço esse solo por inteiro,
para contar o que testemunhei, recorro à sabedoria de um velho feiticeiro
que será meu porta-voz, pois conversa com os elementos da floresta,
negra herança de um povo, misticismo que se manifesta.
Começo minha história aqui, este é meu ponto de partida,
Me chamo Baobá, sou a árvore sagrada da vida!

Curvem-se a mim com respeito e devoção, 
pois meus galhos são mais antigos do que a sua própria nação,
imponente na paisagem, água em meu corpo tenho o dom de armazenar,
sou raiz forte, resisti a todo tipo de adversidade que se possa imaginar.
Vi a chegada de negros de língua Bantu vindos de outras partes do continente
fazendo morada em nossas terras, trazendo os costumes de sua gente,
um povo que produzia e manuseava objetos de ferro com rara habilidade,
suas tribos, linhagens e etnias viveram um longo período de prosperidade,
Tinham tudo à vontade, ouro, madeira, marfim e várias outras riquezas naturais,
Exploraram e negociaram sem limites em nome das tais atividades comerciais.
Sob a proteção de minha sombra, Monomotapas dominavam o interior,
enquanto no litoral, os Suailis trocavam mercadorias com seja lá quem for,
tolos, mal sabiam que isso despertou a cobiça do futuro invasor.
Conheço como ninguém todas as lendas desse lugar, 
muitas são reais e outras partiram do imaginário popular,
Dizem que a muito tempo, da terra das mil e uma noites um sultão aqui chegou,
Como Mussa Ben Mbiqui se apresentou e por aqui mesmo ficou.
Hábil comerciante, negociava com mercadores vindos de todos os lados
e devido a isso, de "terra de Moçambique" passamos a ser chamados.

Posso sentir novamente um vento frio em meu tronco bater
pois puxo agora da memória relatos antigos difíceis de esquecer.
Lembro-me bem do dia em que tudo começou...
Foi quando um povo fugido das adversidades do deserto aqui chegou
trazendo em sua bagagem uma nova cultura, costumes e religião,
Nos deram tapetes, miçangas, tecidos, perfumes, venderam ilusão,
em troca levaram ouro, marfim e nossos filhos para escravidão.
os árabes transformaram nosso litoral num grande mercado a céu aberto
pois a febre do ouro deixou nossos defensores com os olhos encobertos,
brigavam entre si na floresta em nome da ambição,
abrindo as portas para o inimigo, pois enfraqueceram nossa nação.
Nesse período eu já era respeitado, ninguém ousava mexer com o Baobá sagrado,
sempre reinei soberano em comunhão com espíritos dos ancestrais
água, terra, fogo e ar, sempre fui parceiro dos elementos naturais.
Ventos vindos do litoral trazem um relato de pura magia,
pude sentir a esquadra do navegador Colombo quem diria,
dar meia volta, amedrontados com o que acabaram de enxergar,
eram as sereias negras enviadas pelos deuses, protetoras do nosso mar.
Muitas vezes, fui refúgio, dei sombra e abrigo
para quem queria se proteger do inimigo.
testemunhei a chegada dos dragões vermelhos da maldade
empunhando espadas reluzentes , espalhando medo e crueldade.
Com muito orgulho posso afirmar, que muitas vidas ajudei a salvar
Afinal, para se esconder dos espanhóis lugar melhor não há
do que a parte de trás do tronco desse velho Baobá!
Meus galhos estremecem...
pois lembro como hoje do dia em que aportaram em nossas terras,
vindos em caravelas negras envoltas da fumaça das trevas ,
Os mais cruéis invasores que enfrentamos, que entraram sem pedir licença
saqueando, escravizando, impondo uma nova língua e uma nova crença.
testemunhei a chegada dos demônios verdes enviados pela coroa de Portugal
com a aparência de bodes infernais, eram a mais pura representação do mal.
Porém, os mesmos espíritos que guiavam os antigos guerreiros
incorporaram no nosso povo e lutamos por séculos inteiros.
Não aceitamos o domínio com passividade, tivemos paciência
e graças a essa gente conseguimos a sonhada independência.

Por isso, convido a todos que celebrem a tão sonhada liberdade,
Que o som das timbilas e tambores ecoem e espalhem nossa felicidade.
Quero ver a tribo Makonde em festa, onde a alegria vive e se manifesta,
é lindo ver as máscaras mapico num ritual de iniciação 
e mulheres com coloridas capulanas, mantendo viva a tradição.
É batik, é batuque, é alegria em comunhão com a natureza,
se me perguntarem onde as águas são mais azuis, afirmo com certeza
que em Bazaruto as riquezas marinhas encantam pela beleza.
Vejo com alegria a savana renascer, depois de um período de tribulação,
reino soberano em Gorongosa, com os animais que habitam esse chão.
Somos uma nação onde a natureza é preservada e a fauna não para de crescer,
é a vida selvagem que ressurge em Moçambique, é assim deve ser!

Para os males da alma e do corpo, nossos curandeiros tem a cura
Ensinamentos ancestrais com medicina, essa é a grande mistura.
Vejo novos estrangeiros chegando por todos os lados
provavelmente encantados, com tanta alegria e diversidade.
Minha capital de simples tribo se tornou uma grande cidade.
um povo de pele amarela apostou na nossa capacidade
de mexer com a terra, assim como aprendemos dos antigos,
abrimos fronteiras fizemos amigos.
Nos tornamos "o leão tecnológico", o futuro do continente,
mais se perguntarem qual o segredo do sucesso crescente,
afirmo com a propriedade de quem viveu o passado e o presente...
o sorriso e a alegria dessa gente!

Termino aqui a minha trajetória,
cumprindo e contando minha história.
Sou o Baobá sagrado, árvore soberana da floresta,
por isso, não quero tristeza, quero festa,
entrego meu fruto para vocês jovens, como símbolo de conhecimento.
Das minhas cinzas que não são de morte e sim de renascimento,
retiro as sementes da prosperidade e entrego a águia guerreira,
peço que cumpra a sua missão e as espalhe pela terra inteira.
Voe pela imensidão, seja a minha mensageira!
Só assim então, teremos garantias de tempos felizes,
As sementes virarão árvores sólidas que espalharão suas raízes.
Saibam que nossa conversa, no tempo se eternizará
Para que todos lembrem sempre, dos ensinamentos deste velho Baobá!

Magoo
Carnavalesco da Nenê de Vila Matilde

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