terça-feira, 16 de julho de 2013

Sinopse Vila Isabel 2014


   A campeã do carnaval 2013 do Grupo Especial carioca liberou a sinopse do enredo que tentará o bi. Com a assinatura  do carnavalesco  Cid Carvalho, a escola do bairro de Noel levará "Retratos de um país plural", promovendo uma grande viagem pelos biomas brasileiros junto de Câmara Cascudo e Chico Mendes. Confira a sinopse abaixo: fonte: Carnavalesco

É o Brasil um gigante pela própria natureza! Um gigante feito de rochas, terra e matas que moldam sua figura, dos bichos e pássaros que vivem em seu corpo e dos rios que correm em suas veias. Um gigante que, por muito tempo, ficou adormecido enquanto seu corpo era mutilado e suas riquezas saqueadas. Mas é na força do povo, presente nos ritos e celebrações, na musicalidade, nos folguedos, nos causos, no imaginário coletivo e nas ações de preservação, que encontramos a alma deste imenso Brasil. Uma alma viva, que se manifesta e faz vibrar o corpo do gigante lhe fazendo despertar.

Vamos então, seguindo a trilha deixada por Câmara Cascudo, encontrar os “desertões” africanos que “batizaram” os cafundós da nossa terra e,  partindo da nossa Costa Marina, adentrar os nossos sertões numa viajem para desnudar o corpo e reverenciar a alma deste imenso Brasil.

Separando as Costas daqui e de lá estava o “Oceano Tenebroso”, como um espelho d’água a refletir a triste imagem da escravidão.

Mas foi do meio do “desertão” da África tribal, e não do vai e vem do litoral, que herdamos a alegria das festividades e a espontaneidade do cantar e do dançar e que desaguaram no vasto estuário da nossa cultura popular.

Do lado de cá, os lusitanos também se fixaram como “caranguejos”, ocupando todo o litoral, berço da exuberante e diversificada Mata Atlântica, criando as diversas regiões coloniais e espalhando os “dejetos” da civilização e do progresso. Diferentemente das terras costeiras, onde os nativos e negros trabalhavam como escravos na exploração das riquezas, os “sertões selvagens” e desconhecidos ficaram renegados à própria sorte.

Mas, enquanto os “civilizados” do litoral derrubavam a floresta original, os lampejos de “brasilidade” espocavam aqui e acolá: os nativos fizeram o colonizador “dançar” e os minuetos escaparam do salão para as varandas e dali para os congos, batuques e cucumbis dos terreiros negros. Seja nas procissões, seja nas danças, iniciou-se o “embaralhamento” como traço marcante desse barroco-latência que nos constituiu.

Mas se, mesmo dilacerado, o litoral foi o ventre gerador, foram os solos desprezados dos sertões que guardaram e protegeram as tradições mais autênticas que do Brasil floresceu. Foi ali, na dureza da lida e da vida afastada da cidade, e não do litoral, lugar onde imperavam as transformações rápidas, que chegavam por meio das regiões portuárias, trazendo mercadorias e idéias que não tinham correspondência com os valores do nosso solo, que vingou a nossa legítima “alma” brasileira.

É o momento de redescobrir na simplicidade da sombra de um cajueiro, do trabalho das rendeiras e das xilografias do cordel, a passagem que nos leva ao Reino do Cangaço, o fabuloso cenário onde Lampião e seus compadres se encontram com as cortes do sertão. E vislumbrar entre mandacarus, xique-xiques, facheiros e coroas de frades, a misteriosa “floresta Branca” onde o homem das caatingas, entre uma oração pedindo chuva e uma reza amaldiçoando a morte, nos mostra toda riqueza e esplendor onde antes acreditava-se existir apenas o vazio, o deserto e a morte camuflada e escondida na poeira. E quando a chuva cai do céu, por milagre ou pura sorte, o branco se torna verde e a vida vence a morte.

E o verde tem mais cor! Deixe-se, então, seduzir pelo canto do uirapuru e seja conduzido ao Reino das Amazonas, as senhoras do “Inferno Verde”, onde o  cangaceiro das caatingas se transforma em barão seringueiro e protetor da copaíba, da andiroba, do babaçu e do buriti. Vem do coração da mata a lição, vem do sertanejo amazônico o exemplo: que a corrente que agora enlaça os troncos, diferentemente daquela puxada por tratores assassinos, seja uma corrente que junte os elos da preservação herdados de Chico Mendes e abençoados pelos seres encantados!

Liberte-se das amarras e permita que o seu pensamento lhe transporte até os Sertões dos Cerrados nos acordes de uma moda de viola para conhecer o Reino de Morená e desbravar a intrigante “floresta de cabeça para baixo” com suas quebradeiras de coco e a riqueza do capim dourado. É a grande oca onde os povos do Xingu realizam o Kuarup em honra aos ancestrais mortos enquanto os deuses sagrados lutam contra o boitatá de fogo para impedir a queimada do seu território. E assim, sob reluzente céu azul anil, protegido esteja o berço das águas do Brasil.

Mas não tenha medo! Feche os olhos, ouça o suave canto da Mãe-D’água e, no vai e vem das águas, no subir e descer das marés, se deixe levar até a Baía de Chocoreré no Pantanal onde o Barco Fantasma com sua bandeira mal assombrada navega ao som do hino do Divino para proteger o lugar. E fecha a porteira e segura o gado! Boi, boi da cara preta não derrube essa cerca porque o pantaneiro não tem medo de careta. Pois aqui tem boi verde do bem e gente que vira bicho sem ninguém estranhar! São tantos mistérios e “causos” que é preciso muito tempo para gente contar.

Dê tempo ao tempo e asas à sua imaginação e voe com a Gralha Azul aos Campos do Sul e também se torne um protetor dos pinheirais. E não perca o rodeio que está para começar: tem pinhão e peão na peleja! E tem o Negrinho do Pastoreio todo prosa em seu cavalo de pau querendo ser o vencedor e o Caipora faceiro sentado em um porco do mato também tem o seu valor. Mas o tempo está acabando e o torneio chegando ao final.

Levantemo-nos das nossas selas confortáveis do descaso, porque para sermos os campeões dessa corrida precisamos ter atitude e pararmos o ganancioso relógio da devastação! É hora de ouvirmos os nossos corações, porque o coração é o que está dentro, é o sertão de cada um!

Eis o reconhecimento da Unidos de Vila Isabel a todos os “Chicos” e “Câmaras Cascudos” anônimos espalhados pelo Brasil! Hoje somos “Vila” e “Herdeiros”! Herdeiros do respeito a nossa natureza e do amor às coisas do nosso país!

Protegendo o “corpo” como fez Chico e a “alma” como fez Cascudo, estaremos preservando a VERDADEIRA NATUREZA do nosso gigantesco país e revelando as cores e matizes que retratam um Brasil Plural!

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